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Mostrando postagens de 2012
peça teatral O BILHETE PREMIADO ou UM DIA DE SORTE Personagens A- arlequim 1 –Eulália 2 –Chico M1- Karla G – Gangster- P – Pai policial D – Santa Efigênia ARLEQUIM – um dia de sorte pode ser apenas um dia comum, igual a qualquer outro. Talvez você tenha tido sorte sem nunca saber que a teve, talvez tenha tido sorte pelo simples fato de não ter tido azar, ou, talvez a sorte esteja justamente em não ter tido sorte. Sorte, segundo o padrão vigente do senso comum pode, muitas vezes, significar muito azar, o que, no final das contas pode ser uma sorte danada. ( Chico e Eulália sentados à beira do palco) 1 – Lembra daquela vez que choveu ? 2 – Lembro . Choveu tanto que os peixes morreram afogados . 2 – (Chora) 1 – (Brusco ) – Que foi ? 2 – Os peixes . 1 – Ora ! Peixes nascem e morrem todos os dias . É igual gente não vale a pena chorar por eles . 2 – Puxa ! Ainda bem . 2 – Que dia é hoje ? 1 – 12
DOURADO Entrou pela porta e se aproximou da mesa onde eu garatujava alguns desenhos às bordas do meu caderno de lições. Era pleno verão e, na cidadezinha portuária onde vivíamos agora, fazia um calor de fornalha. Mesmo assim, apesar do calor, trajava impecável terno de linho branco e chapéu de palhinha. Parecia mais um estereótipo, um personagem desenhado por um artista estrangeiro, com seu sapato também branco e um cravo vermelho à lapela. - Boa tarde menina linda! – disse com voz profunda e melodiosa e me sorriu deixando ver seus belos dentes, um deles de ouro. Este sorriso me causou estranha impressão a qual até hoje não consigo definir. Uma espécie de atração repulsão me levava a desejar constantemente aquele sorriso, mas, no instante em que o via, fazia-me sentir uma espécie de repulsa ou medo, ou, nem uma dessas coisas. Era um sentimento novo, ainda sem definição. Algo assim como fazer-me duvidar de minhas convicções e, se me enredasse em tentar descobrir explicação encontr
MUNDO BLUE Vamos procurar lá, naquela estrela azul, um planetinha onde faremos nosso mundo particular. Onde nada nem ninguém nos venha incomodar dizendo: as coisas são assim, não assado. Dormiremos na chuva. Plantaremos grama sobre a cama e flores nas chaleiras. E nossos filhos... sim que os teremos, muitos, serão de todas as cores. As meninas: rosadinhas, grenás, pastel, salmão; mas todas terão olhos azuis. E seus irmãos: azuis. Totalmente azuis alguns; outros: verdes, vermelhos e róseos os mais temperamentais. Ah! Terão azas, e farão o trabalho das borboletas e das abelhas indo de flor em flor a perguntar seus nomes, desejando-lhes: “Bom Dia!”. A tarde virão aconchegar-se em teu colo, dormindo, satisfeitos e felizes, em um mundo que será sempre aquilo que eles queiram que seja. Ficaremos namorando pela noite afora, os rostos colados, baixo enorme lua prateada de azul, lembrando um pequeno planeta, também azul, distante, para onde poderemos retornar sempre que quisermos, aonde cheg
CARTAS DE SEVILHA Resgatei umas cartas antigas aos dentes dos ratos. Que legal ter uma história! Dezembro de 1987, Sevilha, escrevo à minha jovem esposa, Suza, uma carta transbordante de amor, saudade e ciúmes. Romantismo sincero, verdadeiro, como só podem ter os jovens ainda não corrompidos pela cimentadora realidade cotidiana.
                    OLHOS FECHADOS Deito cansado por ter ido até São Luiz do Purunã, passando pela        Faxina.     Não que eu tenha ido a pé, não! fui em minha caminhoneta impulsionado por um possante motor V6. Mesmo assim estou cansado. E me dou a esse direito de assim estar e de não ir à aula de dança a que me havia proposto. Pego o livro do Mário de Andrade, mas os olhos começam arder embrasados pelo muito sol que houve nesta tarde radiante de julho, e, quando as letras dessa tíbia literatura começam a queimar apago um abajur (tenho dois), fecho os olhos (também tenho dois), mas volto a abri-los, subitamente, ao lembrar que esquecera um compromisso com um grupo de teatro. Bem! Que fazer? Melhor voltar aos olhos fechados, o que me obriga a parar de escrever                
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JULIANO E LAIZ  EM ANTÍGONA
    As vezes, no silêncio da noite Ao ouvir os passos se aproximando, encostou-se à mureta, tentando aparentar indiferença a espera de que passasse. Mas, o vulto sem rosto, encoberto pela névoa, simplesmente parou à uns dez metros de distância. Estacou, súbito, como se houvesse se apercebido de algo. “Ele me viu” pensou, mas logo percebeu não ser devido à sua presença que o vulto estacara. Parecia antes haver lembrado de algo que esquecera. A princípio pareceu que iria voltar atras, com passos rápidos, pelo mesmo caminho por onde viera, embora ele não soubesse dizer de onde surgira. Na verdade, só agora se dava conta disso, ouvira os passos mas não lembrava tê-lo visto caminhando, quando o viu já estava parado, imóvel, com as pernas levemente afastadas, o corpo um pouco inclinado para à frente, o que lhe dava um aspecto de algo desalinhado à ordem natural das coisas, como uma torre de Pizza. Quando a sensação de ameaça passou e seu cor
                                                 ANA E O ARMAGEDON Encontrávamo-nos num lugar de um bucolismo dolorido que seria muito bonito não fosse a luz demasiado sólida, de cores intensas e belas, mas, ao mesmo tempo, com certo que de fatidicamente fúnebre. Era complacente a atitude de Ana, quando veio a mim, e, embora viesse reclamar do comportamento de um tal Menguela, fazia-o de modo condescendente, acrescentando ainda a mesma reclamação sobre outro sujeito: Beck Antunes, este bastante meu conhecido a cujos modos irascíveis eu já estava habituado. Saímos ambos no intuito de resolver estas questões quando avistei no céu estranho fenômeno. - Veja! É uma espécie de mini furacão – e o contato com seu ombro desnudo ao voltá-la em direção a ocorrência comunicou-me conforto e calor. Olhamos juntos àquilo que parecia ser um ciclone de areia - pelo menos foi a única definição que consegui dar a ele
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              vox corpus                             apresenta

um anjo em s. luiz

Um Anjo em S. luiz Passei o final de semana lendo o livro do Carlos Solera sobre S. Luiz do Purunã e na segunda me mandei para lá a fim de investigar algumas coisas nas quais já venho trabalhando algum tempo mas que voltaram à tona trazidas pelo texto e as pesquisas deste autor. Resolvi retornar pela estrada da Faxina pensando encontrar Seu Áureo e aproveitar para registrar sua história de Boi-tatá. Quando me preparava para entrar na estradinha em frente ao campo de futebol percebi logo à minha frente um caminhão carregado de toras. Afim de não ficar atrás dele comendo poeira a dez por hora fiz uma ultrapassagem forçada, pela direita, aproveitando um pequeno pátio onde estava estacionado um trator no qual passei raspando, pois a potência exagerada da minha caminhonete v6 fez com que derrapasse para um lado e outro, mas levei-a nas mãos e gostei da brincadeira, de modo que, feita a ultrapassagem, continuei acelerando serra abaixo pela estradinha precipitosa e cheia d

BOI TATÁ DO FAXINAL

BOI TATÁ Contou-me seu Áureo esta história incandescente. Ele vive às margens do Assunguí, numa casinha singela, tão simples, clara e limpa que mais parece poesia. Nem sempre foi assim o Seu Áureo. Quando o conheci, cerca de quinze anos atrás, era um homem irracível e mau humorado. Vivia, nesse tempo, com a esposa e muitos filhos. A esposa se foi. e os filhos também e ele acabou se tornando um velho solitário e mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, afável e feliz. Adora contar causos, bastando apenas provocá-lo. Difícil é fazê-lo parar. Com uma técnica sofisticada que entremeia o fim de uma com o começo da outra, de modo a não dar espaço e oportunidade para que o espectador se vá, as historias vão saindo, uma atrás da outra. “Nesse tempo não tinha luz poraqui e a gente ia nas sexta feira de noite tomá uns trago no boteco” contou Seu Áureo. Disse que o cara que nesta noite por lá apareceu tinha um olhar que não permitia recusas, de modo que quando o convi
Expedição a Três Córregos Sete e meia da manhã. Um sol bonito e inclemente brilha pressagiando o calor infernal que irá fazer depois do almoço, mas, depois do almoço ainda tá longe, de modo que, dando a partida em minha caminhonete, a qual demora um pouco em pegar, causando-me alguma apreensão, como gosta de fazer, me ponho a caminho. Faço filmes e fotos, e, duas horas depois estou na estrada de Santa Cruz, onde constato haver esquecido de levar a chave da moto que repousa impaciente sobre a caçamba, como que pedindo para devorar aqueles caminhos convidativos. Lembro que o proprietário anterior mora na região e resolvo procurá-lo. Talvez tenha uma cópia da chave, penso comigo. Sigo em frente até encontrar uma espécie de oficina com uma placa exótica e um 'papa-vento' esquisito. Enquanto fotografo a placa, o papa-vento e a paisagem, surge um homem. Bom dia! Cumprimento. Responde e me olha meio desconfiado, meio intrigado, finalmente pede para qu
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uma amiga         um violão                      uma cabana
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