BOI TATÁ DO FAXINAL
BOI
TATÁ
Contou-me
seu Áureo esta história incandescente.
Ele
vive às margens do Assunguí, numa casinha singela, tão simples,
clara e limpa que mais parece poesia.
Nem
sempre foi assim o Seu Áureo. Quando o conheci, cerca de quinze anos
atrás, era um homem irracível e mau humorado. Vivia, nesse tempo,
com a esposa e muitos filhos. A esposa se foi. e os filhos também e
ele acabou se tornando um velho solitário e mesmo assim, ou talvez
por isso mesmo, afável e feliz. Adora contar causos, bastando apenas
provocá-lo. Difícil é fazê-lo parar.
Com
uma técnica sofisticada que entremeia o fim de uma com o começo da
outra, de modo a não dar espaço e oportunidade para que o
espectador se vá, as historias vão saindo, uma atrás da outra.
“Nesse
tempo não tinha luz poraqui e a gente ia nas sexta feira de noite
tomá uns trago no boteco” contou Seu Áureo. Disse que o cara que
nesta noite por lá apareceu tinha um olhar que não permitia
recusas, de modo que quando o convidou para tomar uma pinga não pode
se esquivar. Beberam muito. O outro tentava claramente embebedá-lo,
mas ele não era de “matá com o dedo”, de modo que quando
saíram, o cara tava tão bêbado que precisou ser carregado. Em
determinado ponto da estrada o sujeito começou a resmungar “me
larga que vô acender”. Seu Áureo não deu muita bola e continuou
carregá-lo, mas, de repente começou a sentir um calor esquisito e
quando olhou para ele o cabelo era uma tocha acesa. Largou-o no exato
momento em que se transformou numa bola de fogo, pairou algum tempo
no ar indo finalmente repousar sobre um palanque na beira da estrada.
Seu
áureo não esperou para ver o que aconteceria, se mandou pra casa
numa disparada.
No
outro dia acordou em dúvida se a coisa tinha realmente acontecido ou
se fora apenas efeito da cachaça, mas quando passou pelo lugar
descobriu que a cerca havia caído no ponto exato onde houvera o
ocorrido, restando do palanque apenas cinza e carvão
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