um anjo em s. luiz
Um
Anjo em S. luiz
Passei
o final de semana lendo o livro do Carlos Solera sobre S. Luiz do
Purunã e na segunda me mandei para lá a fim de investigar algumas
coisas nas quais já venho trabalhando algum tempo mas que voltaram à
tona trazidas pelo texto e as pesquisas deste autor. Resolvi
retornar pela estrada da Faxina pensando encontrar Seu Áureo e
aproveitar para registrar sua história de Boi-tatá.
Quando
me preparava para entrar na estradinha em frente ao campo de futebol
percebi logo à minha frente um caminhão carregado de toras. Afim de
não ficar atrás dele comendo poeira a dez por hora fiz uma
ultrapassagem forçada, pela direita, aproveitando um pequeno pátio
onde estava estacionado um trator no qual passei raspando, pois a
potência exagerada da minha caminhonete v6 fez com que derrapasse
para um lado e outro, mas levei-a nas mãos e gostei da brincadeira,
de modo que, feita a ultrapassagem, continuei acelerando serra abaixo
pela estradinha precipitosa e cheia de curvas. Sentindo-me como um
piloto de Raly, estando mais para um adolescente inconsequente,
desfrutava o vento, a aventura, a velocidade, mas logo um ramo na
estrada me cortou o barato. Outro, outro e mais outro os ramos se
seguiam, no meio da estrada, um sinal claro de que iria me deparar
com algum problema pela frente. Qualquer motorista sabe que estes
sinais indicam “CUIDADO”. De modo que, engolindo a frustração,
puxei uma segunda, tirei o pé do acelerador e deixei o carro ir,
sempre a espera de me depara com o perigo. Mas esse não vinha nunca.
Os ramos seguiam assinalando, insistentemente, por muitos quilômetros
e nada de perigo. Confesso que aquilo já estava me irritando e o pé
coçava querendo acelerar, mas, me contive. Quando a descida deu uma
suavizada, no único ponto onde existe uma leve subidinha, alcanço o
Seu Pedro, morador da Faxina, bastante conhecido meu. Penso parar
para oferecer-lhe carona mas, quando piso no freio, nada. O pedal
simplesmente bateu lá no fundo do assoalho. Nem uma gota de freio.
Não fosse a pequena subida e não teria conseguido parar. Logo ao
final desta havia pequeno espaço plaino onde finalmente estacionei,
esperei o morador, conversamos, ele embarcou e seguimos adiante. Logo
a seguir existe uma descida em curva e muito acentuada na qual não
quis me aventurar com o motor ligado. Desliguei a chave e, a custo,
fui controlando com o pé na embreagem, até a ponte sobre o
Assungui. Antes dessa dei na partida e segui, cauteloso, muito
lentamente, até a casa do meu passageiro. Quando parei em frente e
ele desembarcou, com muita dificuldade – como está velhinho Seu
Pedro -, me olhou com seus olhos doces e remelentos, sorriu com seus
poucos dentes, insistindo muito para que eu entrasse prosear um
pouco. Eu , infelizmente, não tinha tempo. Continuo, ainda, no ritmo
urbano. Antes de sair pergunto a ele sobre os ramos na estrada. Disse
não saber do que se tratava, que quando subiu não havia nada. Segui
adiante e os ramos continuavam até sumirem exatamente em frente a
igrejinha. Olhei a cruz, me benzi agradecendo a Deus e meu anjo da
guarda por esta intervenção materializada nestes ramos misteriosos.
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