PANDORA

este texto foi montado com:
Juliana Souza(Pandora-foto)
Cláudia Souza (Quimera) "O DIÁLOGO DE QUIMERA E PANDORA”

Cenário : apenas um biombo translúcido a um dos cantos do palco, próximo a ele uma cadeira leve onde estará sentada Quimera olhando-se em uma bacia de porcelana com água enquanto escova os cabelos .
Deverá vestir algo claro e leve.

Entra Pandora, arrastando pesado baú, gemendo, demonstrando muita dificuldade em sua tarefa, ora puxando, ora empurrando .
Deverá cair e parecer engraçada , descabelada . A alça de seu vestido cai constantemente, causando-lhe incômodo . Por fim senta-se sobre o baú, solta o ar, observa Quimera, a qual permanece o tempo todo na mesma atitude, indiferente a Pandora. Finalmente, aproxima-se:
Diálogo de Quimera e Pandora
Pandora – Sonha Quimera
De sonhar consiste teu existir
Eu, teço sonhos de realidade
Ser igual você
Quem me dera .

Vives tua utopia
Minha ilusão não te seduz
Mas, somente se beberes
De minha treva
Saberás de que vale tua luz .

Toma !
Serve-te em minha caixa .
Ali irás encontrar
Tudo que lhe possa faltar.

Vamos !
Serve-te; troca esta felicidade vã, inexistente
Pôr outra mais real, eterna, consistente .

De que vale uma felicidade
Apenas imaginária, aparente ?

Vem ! Serve-te ! Farta-te de conhecimento,
De tudo que sempre quis .
Pois somente assim
Saberás que não és realmente feliz .

Quimera – Aquilo que me serves, já o tenho .
E se não tenho é porque não o quero, nem desejo .
Pandora – Sim ! Que o queres . Apenas que não o sabes ainda .
Vem serve-te !
Como podes saber
Se não provastes todavia ?
Q – Beberei, quando tiver sede .
P – Fartemo-nos no banquete celestial .
Deus é um perdulário
Não lhe agrada os econômicos
Para construir este universo
Veja só ! Que desperdício de material .
Q – Minha querida irmã .
Bem sabes que não nasci ponderada .
Façamos então as pazes .
Desta tua caixa, já tudo experimentei .
Nada de novo me trazes .
Os amores ! ?
Amei-os todos
Dos licores; bebi-os todos .
De conhecimentos , me fartei até a indigestão .
Já não me tentas mais, com tuas promessas .
Sou simplesmente, simples
Minha felicidade consiste em, haver envelhecido tanto .
Que voltei a ser criança .
P – Como podes perder teu tempo e tua infância em apensa ser criança ?
Por tua beleza anseiam em
Extremaponta ; lá onde os homens são quase deuses
E os deuses quase homens.
Q – Extremaponta é aqui e o amanhã, agora .
P – Já a aurora se faz anunciar .
E tu, preguiçosa, teimas em não levantar !
Anda vamos !
Bebamos o novo porvir
A tanto de que se servir
Movamo-nos ! Não ouves o dia chamar ?
Comamos ! Bebamos !
Há tanto com que se fartar .
Q – Um átimo de temo
Me sacia de eternidade
Um olhar apenas terno
Traz todo amor de que tenho necessidade .
P – Que então; de nada mais sentes vontade ?
Q – Sim ! E não !
P – Pois ... juro não entender-te .
Q – Entender-me-ás quando se desfizer de tuas tralhas;
Tudo de que te jactas .
Não percebes ?
São tuas mortalhas.
P – Prefiro quedar-me nua e exposta, a me desfazer de meus pertences .
São tudo o que tenho de precioso.
Que será de Pandora sem sua caixa ?
Aquelas não são minhas coisas .
São eu mesma .
Q – Venha amiga !
Despe-te de teus apegos .
Venha !
Habitar no imaginário, onde somos deuses e criamos
Nossa realidade tecida de sonhos .
Deixa aqui tua caixa, com seus tesouros vãos,
Com certeza os abutres doutos por ela disputarão .
Entre bicadas e grasnados tudo hão de quebrar.
E por fim, devorar-se-ão uns aos outros; sem nunca se poderem saciar .
Deixa aqui teus ornamentos.
Vou tecer-te uma guirlanda de sonhos.
Deixa aqui tuas vestes
Vou fazer-te um vestido de pensamentos .
Tão diáfano que te fará nua aos anjos,
E invisível aos impuros .

(Quimera coloca-a atrás de um biombo semi translúcido, o qual receberá uma iluminação azul vinda de cima e outra amarela, vinda de baixo; estas luzes deverão revelar sua silhueta quando Quimera a desnuda. Leva então seu pesado traje até a caixa, abre-a . De dentro desta brota um jorro de luz vermelha e a sonoplastia fará som de cacos quebrados . Quimera retirará, de dentro da caixa, um vestido inteiramente transparente .
Enquanto isso, Pandora queda imóvel e nua) .
Q – Vesti-la-ei, minha querida irmã, com esta veste tecida de esperança, a única coisa de algum valor que trazes em tua caixa. Este vestido farte-a invisível aos impuros.
(Vai ao biombo veste-a . Apaga-se a luz do biombo e volta a luz normal . Quimera sai como se estivesse de braços dados à Pandora, pára como se tomasse suas mãos, olhando-a )
- Estás linda !
Há uma eternidade não a via assim tão bela . (olhando para o alto e em redor)
Veja ! Parece que todos os anjos do céu vieram para contemplar sua nudez, de pensamentos e esperança apenas vestida .
Responda agora amiga : Que valem todos os deuses, todos os homens de Extremaponta ?
Que são todos os tesouros comparados a tua nova leveza ?

(A luz ameniza enquanto elas saem – Pandora disfarçadamente-. Breve blecaute. Retornam . Pandora deverá estar vestida com algo muito leve e transparente, demonstrando total nudez abaixo deste vestido fluídico. Haverá pouca luz )

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