OS IRMÃOS KARAMÁZOV
Considerações sobre DOSTOIEVSKI.
Lendo este genial escritor russo chego cada vez mais a conclusão de que loucura e a insanidade são a mola propulsora da criatividade humana. Não somente no campo das artes, as conquistas, as grandes obras arquitetônicas, as mudanças sociais e, principalmente os saltos à frente dados pela humanidade, sempre foram obras de loucos genais, nem sempre “malucos beleza”, os Neros, os Napoleões, os Gengis Khan, também podem ser incluídos nesta lista nefasta, mas necessária. Porém o assunto não é este, é Dostoievski, mais precisamente os Karamázov.
Alguém disse que ler Tolstoi é como passear pelo campo numa tarde de primavera. Talvez!? Já, ler Dostoievski é como passear neste mesmo campo, sob um céu hora negro e ameaçador, hora de um sol cintilante, montando fogoso e indômito cavalo sem rédeas, o qual dá saltos e bruscas guinadas imprevisíveis. Resta-nos agarrar-nos às crinas, retesar todos os músculos e curtir a vertigem, o vento no rosto, a adrenalina.
Tem início num mosteiro onde, em torno de um monge de santidade duvidosa e sabedoria inquestionável, se reúnem os Karamázov a fim de ouvir deste um parecer sobre o litígio entre Fiódor, o pai, e um de seus filhos, Dmitri, numa questão de dinheiro. Dmitri ou Mítia é o mais impetuoso e dissoluto da família e de todo o romance. Estão presentes, ainda, Ivan, o intelectual e mais cordato de todos - embora não isento da loucura Karamázovskiana e Dostoievskiana, tanto que, lá pelo final do segundo volume, tem um longo diálogo com o diabo-, e Alieksiêi ou Aliócha, o mais jovem. Cândido e puro este último é movido por uma loucura mais fina, místico religiosa, e é arrastado pelo frenesi dos personagens ensandecidos, os quais tenta salvar das suas loucuras sem se dar conta da sua própria.
Fiódor, o pai, é sovina, trapaceiro, beberrão e lascivo, mas muito ladino; simplório, mas capaz de geniais tiradas cheias de uma sabedoria terrena e farta bagagem cultural. Suas falas, gestos grandiloquentes, o paradoxismo da sua figura aparentemente simples, mas de uma sofisticação psicológica muito profunda – talvez um dos motivos que levaram Freud a classificar esta obra como a mais importante de toda a literatura -, tornam este encantador semi-vilão um personagem cinematográfico, como se Dostoievski o tivesse concebido para o cinema. É como se o autor, ao escrevê-lo, o imaginasse na tela.
Esta reunião numa cela de convento dá o tom e a nota que transcorrerá por todo este enorme romance.
Os ambientes são tensos e nunca há meios tons. Tudo é intenso, tanto ódio quanto amor. O livro tem febre e às vezes parece queimar-nos as mãos.
Fazendo pouco uso daquilo que, a meu ver, são o maior encanto da literatura: metáforas e adjetivos, abusa, no entanto, de outros recursos mais próprios do teatro e do cinema: enredo cheio de tramas e ganchos, a ação frenética, os diálogos longos, inteligentes e profundos – mais próprios do cinema europeu -, são recursos dos quais o autor abusa de modo, por vezes, exasperaste e cansativo.
Seria fantástico se tivesse no máximo duzentas páginas; com trezentas ainda seria muito bom, mas 999 páginas de Karázov é demais, não há quem possa agüentar sem enfado e, lá pelo final, o prazer já se foi, substituído pela quase obrigação de ler este super clássico.

José Vilseki

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