por quem os sinos dobram

Não pergunte por quem os sinos dobram é por ti que eles dobram.
(Ernest Hemingway)

...então mandaram um tanque para derrotar-nos, e eu pergunto prá que? Se já estamos há muito derrotados. Talvez para esmagar-nos de vez. Para encerrar, definitivamente, este espetáculo hediondo e grotesco de nos ver debatendo-nos, assim, em público, numa agonia infinita e ignominiosa.
Seria bom nos pisoteasse de vez, este tanque, e nos esmagasse definitivamente, que esquecessem finalmente, de nós e de nossa pobre arte sobrevivente.
Mas não precisa. Não faz falta gastarem combustível e munição. É tão desnecessário quanto Hiroshima e Nagashaki.
Quem sabe nossa total extinção faça nossos iluminados administradores se aperceberem de seus erros e incapacidade em gerir as coisas da arte.
Gostos pessoais, pontos de vista ou crenças religiosas, não devem jamais obstaculizar a espontaneidade dos acontecimentos artísticos. Cabe a eles, aos administradores, produzir o esterco, o estrume, o adubo onde nós, o povo, os artistas, possamos lançar nossas sementes. Mas o que temos visto ultimamente? A desertificação. Nossos talentos morrendo desidratados em meio a uma aridez impossível, invencível.
Não vejo, dentro desta conjuntura, outra saída senão continuarmos importando talentos que nos venham derramar suas moedinhas de esmola e seu sorriso condescendente de sarcasmo e piedade. Enquanto isso nossos talentos se vão, em debandada, enquanto podem, enquanto há tempo, enquanto não foram totalmente esmagados por essa máquina tão cega e poderosa quanto cruel.
Nós, que aqui permanecemos, não esperamos qualquer glória. Ficamos talvez por que não tivemos ânimo, coragem ou tempo para a fuga. Ou, talvez, quem sabe, por que tivemos um dia e alimentemos ainda, alguma esperança.
Tanto se evadiram nossos talentos artísticos que alguém vindo de fora não crê seja esta terra capaz de produzir qualquer arte de qualidade.
Ledo engano. Basta criamos condições propícias ao florescimento artístico e logo veremos quanta coisa boa pode resultar disso.


Não perca tempo em me matar que já estou suficientemente morto.

Acabar com a arte em prol de qualquer coisa prática é como matar os pássaros do jardim e fazer com eles um pastel. (Tagore)

Não se pode calar um escritor. Ele continua clamando eternidade a fora, e mandará folhetins seja do céu ou do inferno.

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